Equilíbrio em meio à incerteza
- Leonardo Strambi, CFA

- 26 de ago.
- 4 min de leitura

Equilíbrio em meio à incerteza
Um mundo menos previsível
Os últimos meses trouxeram um acúmulo de choques geopolíticos e tensões comerciais que colocaram em xeque a previsibilidade do cenário global. O ressurgimento de disputas tarifárias entre Estados Unidos e China, a escalada de sanções direcionadas a regimes considerados hostis ao Ocidente, e o ruído político em torno das eleições brasileiras — ainda que com impacto concentrado no mercado local — compõem um quadro de maior incerteza. Para investidores globais, o desafio é separar o que é ruído de curto prazo do que representa mudança estrutural.
A nova fase da guerra comercial
A relação entre EUA e China nunca voltou ao equilíbrio anterior à pandemia. Nos últimos 30 dias, vimos uma intensificação da chamada trade war em setores estratégicos, como semicondutores, tecnologia verde e exportações de bens críticos. Washington ampliou restrições ao acesso chinês a chips avançados, enquanto Pequim retaliou com limitações à exportação de metais raros usados na cadeia produtiva global.Essas medidas podem parecer pontuais, mas reforçam um padrão mais profundo: a fragmentação das cadeias globais e o custo adicional de um mundo menos integrado. Para o investidor, isso implica pressões inflacionárias persistentes em setores específicos e uma necessidade maior de diversificação geográfica e setorial.
O peso das sanções
Além das tarifas, outro instrumento de poder ganhou relevância: as sanções financeiras. O Magnitsky Act, originalmente voltado para violações de direitos humanos, expandiu-se nos últimos anos como ferramenta de pressão em disputas internacionais. Trazendo para a realidade do mercado brasileiro, as sanções ampliam a incerteza em relação ao nosso ambiente político e tornam mais complexa a avaliação de riscos em mercados emergentes. Embora, na maioria dos casos, os fluxos de capital se ajustem rapidamente, o recado é claro: a política internacional influencia diretamente o custo de fazer negócios e, consequentemente, o valor de ativos.
O ciclo político e o investidor global
As eleições brasileiras seguem atraindo atenção e parece ser o principal fator a ser monitorado no mercado local. O chamado “election trade” reflete o comportamento de investidores que buscam se posicionar antecipadamente diante de possíveis mudanças de governo, políticas fiscais e reformas estruturais.Mesmo quando o impacto local é limitado, esse movimento contribui para volatilidade de curto prazo em moedas e ativos de risco. Para o investidor internacional, é um lembrete de que a política é um fator de mercado inescapável.
Nosso processo de investimento
Entendemos que em períodos como este a tentação é ceder ao excesso de informação e reagir de forma abrupta. Nosso processo busca justamente filtrar o que é estrutural do que é episódico.Acompanhamos de perto os desdobramentos da guerra comercial e das sanções, mas evitamos apostas concentradas em cenários binários. Mantemos uma abordagem prudente, global e diversificada, combinando análise macroeconômica com seleção criteriosa de ativos. Esse equilíbrio nos permite atravessar períodos de maior ruído sem comprometer a resiliência de longo prazo dos portfólios.
O valor do equilíbrio
O ponto central desta carta é simples: em um mundo de incertezas crescentes, um portfólio equilibrado continua sendo a melhor defesa.Isso significa não apenas diversificação entre classes de ativos, mas também entre geografias, setores e fatores de risco. Significa também aceitar que volatilidade de curto prazo é parte do processo, desde que a alocação esteja alinhada ao horizonte e ao perfil de risco de cada investidor.
Teses em foco
Dentre as principais teses que estamos monitorando, destacamos algumas movimentações recentes em nossos portfólios:
Moedas e ativos globais
Nossos modelos internos têm apontado sinais de que o dólar pode estar mal precificado. Apesar de um momentum de mercado contrário, temos adicionado posições dolarizadas nos portfólios.
Na renda fixa internacional, seguimos aumentando a duração dos portfólios e a qualidade do crédito, em resposta ao nível comprimido dos spreads e ao momento do ciclo. Embora vejamos as bolsas globais negociando em valuations mais esticados, o momentum ainda é favorável. Por isso, mantemos posição neutra em risco, equilibrando cautela e oportunidade.
Mercado doméstico – beta e alpha
Para capturar o beta da bolsa brasileira, seguimos posicionados no IDIV, que combina exposição a dividendos e valor relativo atrativo. Paralelamente, buscamos alpha em teses específicas, com destaque para Mercado Livre (MELI), Suzano e Equatorial.
No universo de small caps, estamos dando preferência às mais alavancadas, que tendem a se beneficiar mais de um cenário de queda de juros nos próximos 2–3 anos (nosso cenário-base, embora não seja consenso de mercado). Entre os nomes que monitoramos de perto, destacam-se: Cury, Moura Dubeux, Plano & Plano, Bemobi, Vivara e Track & Field.
Os próximos meses prometem novos capítulos na disputa comercial entre EUA e China, no uso estratégico de sanções e nos ciclos eleitorais que moldam expectativas. Mas a lição é recorrente: não existe previsão perfeita, apenas preparação adequada.Seguimos atentos e disciplinados, com a convicção de que a prudência, a visão global e a consistência do processo são os melhores aliados para preservar e crescer o patrimônio de nossos clientes no longo prazo.
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Leonardo Strambi, CFA Economista graduado pela PUC-RJ, MBA em Gestão de Investimentos pelo IAG/PUC-RJ, Gestor de Recursos CVM - CGA/CGE e CFA Charterholder, CFA Institute. Fundou a Austria Capital em 2017, onde atua como diretor de gestão patrimonial e gestor de portfólios. |
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