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Carta #13: Entre fluxos e fundamentos: o que está movendo os ativos globais

  • Foto do escritor: Leonardo Strambi, CFA
    Leonardo Strambi, CFA
  • há 2 dias
  • 6 min de leitura
Clientes e amigos, os mercados globais atravessam um dos períodos mais interessantes dos últimos anos, em que narrativas estruturais de longo prazo — como inteligência artificial, transição energética e reorganização das cadeias produtivas — convivem com um ambiente macro de curto prazo ainda marcado pela transição da política monetária e pela reprecificação do risco. O investidor se vê diante de um cenário híbrido: por um lado, forças seculares impulsionam investimento e inovação; por outro, a normalização dos juros, a desaceleração moderada da atividade e a diminuição do prêmio de risco exigem uma postura seletiva. Boa leitura!
Clientes e amigos, os mercados globais atravessam um dos períodos mais interessantes dos últimos anos, em que narrativas estruturais de longo prazo — como inteligência artificial, transição energética e reorganização das cadeias produtivas — convivem com um ambiente macro de curto prazo ainda marcado pela transição da política monetária e pela reprecificação do risco. O investidor se vê diante de um cenário híbrido: por um lado, forças seculares impulsionam investimento e inovação; por outro, a normalização dos juros, a desaceleração moderada da atividade e a diminuição do prêmio de risco exigem uma postura seletiva. Boa leitura!

Temas & Narrativas


O ponto de inflexão dos mercados


Neste mês, destacamos quatro temas macroeconômicos que consideramos essenciais para compreender o atual ponto de inflexão dos mercados globais. Em comum, todos eles ajudam a explicar a reprecificação do risco em curso, a rotação entre classes de ativos e a necessidade crescente de seletividade nas decisões de alocação.


1. “AI jitters”: capex explode, produtividade fica para depois


O ciclo de Inteligência Artificial continua remodelando as expectativas de crescimento global, mas de forma assimétrica. O investimento cresce antes que os benefícios apareçam. A estimativa global de capex em data centers já supera US$ 1,4 trilhão até 2027, refletindo uma corrida por infraestrutura computacional sem precedentes desde o boom das telecomunicações nos anos 2000.


Entretanto, a produtividade que justificará esse investimento massivo tende a demorar. Estudos sobre adoção tecnológica sugerem que os ganhos mais relevantes costumam emergir apenas após três a cinco anos de maturação. Até lá, empresas podem enfrentar margens pressionadas e os mercados devem alternar entre entusiasmo e cautela, conforme o ciclo de investimento avança mais rápido do que os resultados econômicos.


2. Política monetária em transição: dados fortes confundem o Fed


Os bancos centrais caminham para o fim do ciclo de aperto monetário, mas sem pressa. Nos Estados Unidos, o mercado de trabalho segue resiliente, com geração de empregos acima do esperado e salários ainda elevados. Esse quadro, combinado a núcleos de inflação de serviços mais resistentes, mantém elevada a incerteza sobre os próximos passos do Federal Reserve.


A consequência tem sido uma comunicação mais cautelosa: o Fed parece menos preocupado com novas altas e mais atento ao timing dos próximos cortes. Essa fase de transição também é influenciada pela proximidade do fim do mandato do presidente Jerome Powell e pelo risco de pressões políticas por reduções de juros por parte de seu sucessor. O resultado é uma política que busca não ser excessivamente restritiva nem expansionista — um ambiente que tende a favorecer ativos de risco, mas ainda sujeito a episódios de volatilidade quando os dados surpreendem negativamente.


3. Dólar enfraquece e o mundo reprecifica o risco


O enfraquecimento do dólar tem sido um dos movimentos mais relevantes do ano. Estaríamos diante do início do fim da hegemonia da moeda americana e da tese de excepcionalismo dos Estados Unidos? Para além do diferencial de juros, o soft landing global e a retomada cíclica fora dos EUA vêm reduzindo os prêmios de risco que sustentaram a força do dólar desde 2021.


Ainda é cedo para decretar uma mudança estrutural, e seguimos vendo os EUA como o principal porto seguro relativo para investimentos globais. Ainda assim, o momento é claramente mais favorável para emergentes. A melhora do fluxo para ativos fora dos Estados Unidos reflete uma realocação gradual dos portfólios globais, em busca de valuations mais atrativos e maior exposição ao ciclo econômico.


4. Brasil: rally da bolsa reforçado por fluxo estrangeiro


A queda dos juros globais — especialmente nos EUA — tem sido determinante para o apetite por risco no Brasil. O Ibovespa atingiu máximas históricas no mês, impulsionado por um fluxo estrangeiro consistente.


Além do cenário externo favorável, fatores domésticos também contribuíram: uma melhora marginal na percepção fiscal, pesquisas eleitorais sugerindo maior probabilidade de alternância de governo com um candidato de centro-direita, a reprecificação da curva longa e expectativas de inflação mais equilibradas. Ainda assim, o movimento foi predominantemente liderado pelo fluxo global, reforçando o caráter internacional da alta recente.


Renda Fixa


Duration ainda oferece valor; crédito segue caro


A renda fixa vive hoje um paradoxo interessante. Enquanto as curvas soberanas oferecem carry sólido com volatilidade controlada, o mercado de crédito apresenta spreads comprimidos em níveis que podem não compensar adequadamente os riscos assumidos.


Yields & spreads: onde há valor?


Nos Estados Unidos, os spreads de crédito — tanto Investment Grade quanto High Yield — operam próximos às mínimas dos últimos dez anos. Ao mesmo tempo, dado o estágio do ciclo e o nível atual dos juros, ainda há prêmio a ser capturado nos vértices intermediários e longos da curva soberana.


No Brasil, o cenário não é muito diferente. Os spreads de crédito seguem nas mínimas, com algumas emissões apresentando spreads negativos, o que reforça a assimetria desfavorável da classe.


Duration continua atrativa


A parte intermediária da curva oferece o melhor equilíbrio entre retorno e proteção, especialmente em cenários de aversão ao risco. Além disso, o risco de uma correção altista relevante nos juros parece menor do que o risco de um repricing abrupto no crédito, cuja complacência é evidente em spreads historicamente estreitos.


Crédito está “carregado demais”


A assimetria no crédito é negativa: há pouco espaço para compressão adicional e muito espaço para abertura. Spreads excessivamente apertados reduzem o retorno esperado e ampliam o risco de perdas em caso de desaceleração da atividade ou eventos idiossincráticos.


Nossa preferência


Nas alocações internacionais, mantemos preferência clara por duration soberana em detrimento de crédito corporativo. Treasuries oferecem menor risco e funcionam como proteção em cenários de estresse. O crédito só volta a ser interessante após um widening mais significativo.


Nas alocações domésticas, priorizamos liquidez e conservadorismo em ativos pós-fixados, além de NTN-Bs nos vértices intermediários da curva.


Equities


Momentum global, profundidade saudável e liderança clara


Momentum global segue construtivo


O S&P 500 acumula alta de aproximadamente 14% em 12 meses, enquanto o Nasdaq 100 avança cerca de 20%, ambos sustentados por tendências de preço acima das médias de curto, médio e longo prazo. Indicadores técnicos permanecem em níveis saudáveis, sem sinais claros de sobrecompra.


A amplitude de mercado também vem melhorando. Small e mid caps, antes pressionadas, voltaram a negociar acima das principais médias, sugerindo um mercado mais amplo e menos dependente das mega caps — condição que pode dar fôlego adicional para novas máximas.


Liderança setorial consolidada


O setor de tecnologia segue liderando o ciclo, impulsionado pelas chamadas “sete magníficas”. Telecom e Financials também apresentam estruturas técnicas favoráveis. Em contrapartida, Utilities e Energy mostram sinais mistos, bastante dependentes do petróleo e de eventos geopolíticos. Materials permanece volátil, refletindo a dependência da demanda chinesa.


Ambiente favorável, mas seletivo


O S&P 500 negocia próximo de 25x lucros, com prêmio de risco implícito comprimido, o que exige crescimento robusto e deixa pouco espaço para frustrações. Ainda assim, a combinação de momentum forte e melhora de profundidade cria um ambiente propício para exposição direcional, com preferência clara pelos EUA, além de tilts táticos em small e mid caps.


Brasil: valuation ainda atrativo, mas cenário binário


Apesar do bom desempenho da bolsa em 2025, o Brasil segue oferecendo um prêmio de risco implícito atrativo, negociando a múltiplos descontados em relação ao histórico. Ainda assim, o cenário permanece binário, condicionado ao ciclo eleitoral. O juro real elevado e potenciais revisões de earnings decorrentes do ambiente macro seguem como pontos de atenção.


Conclusão


Disciplina, seletividade e assimetria


O ambiente global combina queda gradual dos juros, dólar mais fraco, expansão do capex em tecnologia e reprecificação do risco ao redor do mundo. Nesse contexto, seguimos privilegiando decisões com assimetria favorável, mantendo:


  • Duration como principal motor de proteção e carry;

  • Crédito com postura cautelosa e horizonte mais longo;

  • Exposição a equities de emergentes, acompanhando o fluxo estrangeiro;

  • Equities globais com preferência por EUA e setores de liderança estrutural;

  • Stock picking para capturar alfa em um mercado mais amplo;

  • Rotação seletiva no Brasil, aproveitando valuations atrativos e fluxo externo.


Se quiser aprofundar algum dos temas discutidos, entender como essa leitura se traduz na alocação dos portfólios ou receber nossa apresentação mensal de estratégia, teremos prazer em conversar.



Abraços,


ree

Leonardo Strambi, CFA Economista graduado pela PUC-RJ, MBA em Gestão de Investimentos pelo IAG/PUC-RJ, Gestor de Recursos CVM - CGA/CGE e CFA Charterholder, CFA Institute. Fundou a Austria Capital em 2017, onde atua como diretor de gestão.

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