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Por que investir (ou não) em criptomoedas?

  • Foto do escritor: Leonardo Strambi, CFA
    Leonardo Strambi, CFA
  • 20 de jun. de 2022
  • 5 min de leitura

Atualizado: 9 de fev. de 2023

As duas principais criptomoedas em market cap, Bitcoin e Ethereum, acumulam quedas superiores a 70% em relação aos seus topos históricos. Veja na imagem abaixo o gráfico de ETH nos últimos 2 anos, ilustrando um drawdown de aproximadamente 80%.

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Nos últimos meses muitos clientes têm me questionado em relação à exposição à criptomoedas como alternativa de diversificação de portfólio.


Por ser um tema polêmico, uma abordagem pragmática direcionada aos principais argumentos da tese, sempre colocando nosso dever fiduciário no topo do raciocínio, é o melhor caminho a seguir.


Vamos começar trazendo os principais argumentos da tese de criptoativos: descorrelação com investimentos tradicionais, disruptura dos meios de pagamentos e sistemas financeiros, manutenção de recursos fora da alçada da regulamentação estatal, instrumento de hedge macroeconômico e proteção da inflação a longo prazo.

Inicialmente é importante destacar que as criptomoedas são ativos extremamente voláteis e que em geral não produzem fluxos de caixa, o que torna virtualmente impossível exercitar estimativas de valor intrínseco através de modelos convencionais de valuation. Sendo assim, o primeiro passo para o investidor interessado na classe é se certificar de estar confortável com uma exposição a ativos com características bastante especulativas por natureza.


Recentemente a tese de descorrelação tem sido bastante questionada, com alguns estudos apontando forte correlação com outros ativos de risco em momentos de estresse no mercado financeiro.


O sell-off recente no mercado fala por si só, como pode ser verificado na imagem abaixo. Enquanto o principal índice acionário norte-americano, S&P 500, acumula uma queda de 23% em 2022, O Bitcoin e o Ethereum acumulam quedas de 55% e 70% no mesmo período, respectivamente.


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Colocando em perspectiva, é importante ressaltar que movimentos de desvalorização desta magnitude não são incomuns no histórico do Bitcoin. Veja no gráfico abaixo que no passado já houveram outros quatro colapsos que levaram a quedas superiores a 80% no preço. É importante que o investidor se certifique de estar confortável ao carregar um ativo que apresenta este tipo de comportamento em janelas mais curtas de observação.


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Quanto ao papel de hedge macro, em maio de 2021, o Goldman Sachs abordou este tema em um relatório de análise macroeconômica entitulado 'Crypto: A New Asset Class?', onde apontou que durante a crise do COVID-19 o Bitcoin se comportou de maneira muito correlacionada com ativos tradicionais, logo não foi um instrumento eficiente de proteção na ocasião.


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Além disso, o estudo concluiu que ainda não seria possível enxergar o bitcoin como um instrumento confiável para hedge macro. O relatório argumentou que para chegar a uma conclusão sobre este ponto ainda seria necessário observar a relação entre bitcoin e fundamentos macroeconômicos ao longo de um ciclo econômico completo, reforçando que pelo curto histórico do Bitcoin, ainda não teria sido possível monitorar o ativo durante um ciclo inteiro ou até mesmo durante um período de forte pressão inflacionária.

Vale notar que hoje, um ano após a publicação do relatório, estamos passando por um momento de forte pressão inflacionária e, pelo menos até aqui, o Bitcoin não tem sido um bom instrumento de hedge.


Acesse o relatório completo:


Em relação à tese da disruptura dos meios de pagamentos e sistemas financeiros tradicionais e o status de alternativa que as criptomoedas se propõem a ser, alguns contrapontos que considero importantes:

- Facilidade no uso de criptomoedas para financiamento de atividades criminosas e crimes financeiros;

- Excesso de volatilidade quando comparado às moedas tradicionais, impossibilitando exercícios de previsibilidade na manutenção do poder de compra mesmo em horizontes de curto prazo;

- Baixíssima aceitação como meio de troca;


De forma geral, as criptomoedas falham em respeitar as propriedades básicas conceituais de uma moeda: instrumento de troca; unidade de medida e reserva de valor.


Há algumas críticas relevantes quanto à falta de transparência e regulação nos ambientes de negociação. Neste ponto o mercado evoluiu bastante nos últimos meses. Há algum tempo já é possível armazenar as criptomoedas em 'Hardwallets' (o que em uma primeira análise pode parecer contraituitivo, levando em conta o argumento de inovação tecnológica por trás da tese, mas a percepção é que no final do dia aumenta a segurança para os usuários), ou até mesmo investir em ETFs de criptomoedas listados na B3, por meio das corretoras, o que traz mais segurança para o investidor. Além disso, situações que seriam facilmente interpretadas como manipulação de mercado em mercados tradicionais são bastante comuns nos ambientes de negociação de criptoativos. Alguns exemplos são os famosos tweets do Elon Musk e as comunidades no Reddit impulsionando as negociações em algumas criptomoedas de menor capitalização, popularmente conhecidas como 'shitcoins'.


A discussão de alguns pontos relevantes referente à taxação e regulação estatal no ambiente de criptomoedas está evoluindo bastante também, o que em uma primeira análise pode parecer positivo, mas há quem diga que tem potencial para impactar negativamente os fundamentos de longo prazo da classe, por gerar incertezas sobre um dos pilares centrais da tese, que é a possibilidade de manutenção dos recursos longe das alçadas governamentais.


É notório que as opiniões sobre o tema são bastante divergentes. É comum vermos excelentes profissionais do mercado financeiro muito otimistas com a classe, ao mesmo tempo em que vemos grandes investidores extremamente negativos.


Alguns exemplos recentes são:



Analisando os posicionamentos com um pouco mais de profundidade, é possível observar que boa parte das críticas em geral são mais focadas em aspectos regulatórios e operacionais do que na tecnologia que está por trás, o blockchain, considerado por muitos entusiastas como o motor de uma nova era da internet.


Como o mercado está avançando bastante nos aspectos regulatórios, pode ser que à frente o papel que as criptomoedas e o blockchain vão de fato exercer na sociedade fique mais claro, mas hoje definitivamente não há um consenso formado, somente muita especulação.


Vale lembrar que é extremamente importante filtrar o conteúdo e as 'recomendações' de investimentos que circulam na internet, tendo em vista a grande quantidade de materiais rasos, desinformativos, ou até mesmo criminosos nos casos mais extremos de golpes financeiros, conforme amplamente divulgados nos noticiários.

Por fim, a principal recomendação é que o investidor que deseje se expor à classe conte com o apoio de uma assessoria de investimentos profissional para compreender o que está por trás da tese, os riscos envolvidos, o nível de volatilidade e o horizonte de investimento adequado; e estruturar um planejamento que defina o nível adequado de exposição levando em conta a alocação global de seu patrimônio; a estratégia de investimento mais apropriada para o seu perfil; e os veículos mais adequados para se investir com segurança.


No final do dia a decisão de investir ou não nesta nova classe de ativos é uma escolha individual de cada investidor.


Na Austria Capital, entendemos que o grande erro que o investidor pode cometer neste processo é tomar uma decisão guiada por 'FOMO' (fear of missing out). Nosso papel, enquanto asssessores de investimentos, é trazer um pouco de luz para o tema para que o nosso cliente seja capaz de tomar uma decisão embasada e com convicção.

Leonardo Strambi

Sócio-Fundador e Assessor de Investimentos na Austria Capital


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