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Americanas sofre queda de 77,3% em um dia devido a inconsistências contábeis.

  • Foto do escritor: Leonardo Strambi, CFA
    Leonardo Strambi, CFA
  • 13 de jan. de 2023
  • 8 min de leitura

As ações da Americanas sofrem queda de 77,3% devido a inconsistências no balanço contábil. Impacto também afeta concorrentes e bancos. Analistas revisam recomendações de investimento. Fique atento ao desenrolar dos acontecimentos.


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As ações da Americanas sofreram um tombo de 77,3% nesta quinta-feira (12), devido a algumas inconsistências no balanço contábil da varejista que podem chegar a R$ 20 bilhões.


Logo na abertura do pregão, as ações entraram em leilão, um mecanismo da Bolsa que busca evitar oscilações de preços. Quando os negócios foram retomados, apenas às 14h20, a ação já recuava 76%.


As perdas também impactaram concorrentes, como Magazine Luiza, Renner e Via, devido ao receio de que outras empresas do setor possam ter problemas semelhantes. Os bancos também sofreram, pois podem ser afetados pela piora da qualidade de crédito da Americanas e de fornecedores da empresa.


Analistas já estão revendo recomendações de investimento no papel. Vamos ver como tudo isso se desenrola.


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Contexto


Na noite de quarta-feira (11), Fato Relevante divulgou que foram encontradas inconsistências contábeis na ordem de R$20 bilhões e que diante disto o CEO Sergio Rial e o CFO André Covre, empossados no início de 2023 dediciram não permanecer na companhia.


Sergio Rial anunciou um call com o BTG para a manhã seguinte (12).



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Nosso time acompanhou o call de Sergio Rial com BTG e compilou os tópicos mais importantes da conversa.


Resumo do call com BTG e Rial


  • Rial disse que há uma desproporção significativa que tem ocorrido desde os anos 90, quando risco sacado não era reportado como dívida;

  • Ainda hoje, não há uma padronização clara, abrindo brechas para que as empresas interpretem se trata-se de dívida ou fornecedor;

  • Risco sacado é a antecipação a fornecedores, que permite que a varejista não comprometa seu capital e ajude a capitalizar os fornecedores com baixo custo financeiro;

  • Apesar disso, após 360 dias a empresa deve pagar à instituição financeira que estruturou a operação (e não mais ao fornecedor), logo seria uma dívida;

  • Sendo uma dívida (e não um custo de fornecedor), o custo financeiro deveria constar nos demonstrativos e não estavam, o que fez Rial concluir que haviam inconsistências nos lançamentos;

  • O foco das inconsistências eram justamente as operações de risco sacado;

  • Rial disse que o valor mencionado de R$20 bilhões foi a melhor estimativa que conseguriam visualizar nos 9 dias em que esteve no cargo e reforçou que não foram validados ou auditados;

  • Deixou claro que não trata-se de R$20 bilhões fora do balanço, tendo em vista que esta conta vem acruando ao longo dos últimos 6 ou 7 anos e foi muito impactada pelo rápido crescimento da companhia no período, em especial no e-commerce;

  • A empresa tem aproximadamente R$8 bilhões de caixa;

  • Reforçou que margens apertadas dificultam ou impossibilitam fortalecimento do balanço patrimonial e pontuou os impactos da alta na Selic para a empresa;

  • Sobre as dívidas, destacou que 92% é livre de covenants, logo "apenas" 8% da dívida da companhia pode ter que ser reestruturada;

  • Reforçou que do ponto de vista operacional não há qualquer impacto nas atividades da companhia;

  • Resumindo, terão que ajustar os balanços, reestruturar a estrutura de capital e possivelmente o modelo de negócios.


Visão do Sell Side antes do evento


Antes do evento, pelo consenso Refinitiv, de 13 analistas, 5 tinham recomendação de compra, 6 neutro e 2 recomendação de venda; e o preço alvo médio de consenso era R$19,96.


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É natural que os analistas que cobrem a empresa começem a avaliar os impactos do evento e revisar suas recomendações para o ativo.


Confira também a evolução das recomendações e o comportamento do preço da ação.

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Impacto nos Fundos Imobiliários


Separamos a lista dos principais fundos imobiliários que possuem as Lojas Americanas como inquilino.

Fundo

% Receita

MAXR11

34%

GGRC11

15%~20%

XPLG11

8%

LVBI11

7%

BRCO11

6%

VIUR11

1%

Coberturas em destaque



Principal destaque:


Como impacta nas contas da Americanas?

  • Alavancagem deve subir: Os R$ 20 bilhões mencionados no fato relevante como potencial impacto de reclassificações são uma estimativa preliminar da companhia acerca do valor que deveria ser reconhecido como dívida bancária no balanço. A companhia tinha R$20,8 bi em dívida bruta no 3T22.

  • Impacto no caixa é imaterial no curto prazo: Rial destacou que não deve haver impacto relevante na posição de caixa da companhia como resultado dos ajustes a serem feitos, mas reforça que isso depende diretamente da postura e disposição dos bancos em manter suas linhas de crédito disponíveis atualmente para a Americanas e seus fornecedores.

  • Necessidade de capitalização: de acordo com Rial, a companhia deve precisar de capital no curto prazo para reajustar sua estrutura de capital depois dos ajustes.

  • Eficiências operacionais já mapeadas: Rial também mencionou que acredita que existam oportunidades de redução das necessidades de CAPEX e capital de giro (estoques) em aproximadamente R$ 1 bilhão, cada.

  • Acionistas de referência estão comprometidos com a companhia: espera-se que eles apoiem a empresa em uma potencial rodada de capitalização.



Principais destaques:


"Para nós, o fato de o Rial ter deixado a posição com menos de 2 semanas de casa transparece que as extensões do ocorrido terão graves impactos na geração de valor da companhia. Acreditávamos que a figura do Rial como cabeça no managment trazia uma confiabilidade em relação à capacidade de execução dos projetos de expansão da Americanas para os próximos anos, como as franquias da Vem Conveniência (Ex. BR Mania)e Uni.co e Ame Digital.


Com sua saída, além dos próprios impactos negativos em termos de resultados e da falta de confiabilidade na governança corporativa que investidores terão no case, vemos esse brilho se apagando.


Em nossos ajustes no modelo de valuation, se consideramos um cenário onde as reclassificações impactariam em uma retração de 25% do montante de R$20b no Enterprise Value da companhia (~R$5,0b) devido a uma deterioração do resultado pelo pagamento de despensas financeiras oriundas da expansão do endividamento para patamares longe dos saudáveis, o que somadas a maiores pressões de capital de giro consumindo caixa e a atualização das nossas premissas macroeconômicas para os próximos anos da gestão Lula, com uma taxa SELIC chagando a 14,5% 23E (+300bps Vs. Est. Genial anterior), levaram a uma redução do nosso preço-alvo de AMER3 23E para R$9,40 Vs. R$28,40 em nossa recomendação anterior, implicando em um downside de -21,14%."



Quais fundos tinham ações da empresa?


Americanas: ao menos 152 fundos estavam comprados em ações da varejista em dezembro: Mais Retorno compilou listas de fundos posicionados no ativo.


Quais as consequências da saída de Sergio Rial?


"Os acionistas da Americanas (AMER3) tiveram muitos motivos para comemorar no fim da tarde do dia 22 de agosto de 2022, uma segunda-feira. Suas ações haviam fechado com alta de 22,5% ante a sexta-feira. O motivo foi a notícia de que Sergio Rial, ex-CEO do banco Santander, assumiria a presidência da Americanas no dia 1º de janeiro deste ano. A alegria, porém, durou pouco. No início da noite da quarta-feira (11), apenas dez dias após assumir o cargo, Rial e André Covre, diretor de relações com investidores da empresa, anunciaram suas demissões.


A causa, confirmada em um Fato Relevante, foi a detecção de “inconsistências em lançamentos contábeis” de R$ 20 bilhões. Segundo o Fato Relevante, “não é possível determinar todos os impactos de tais inconsistências na demonstração de resultado e no balanço patrimonial da Companhia”, mas a “Companhia estima que o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial”. Só para comparar, o valor de mercado da Americanas é de cerca de R$ 11 bilhões, quase o dobro da capitalização em bolsa.


Como o comunicado foi divulgado após o fechamento do mercado, a Americanas fechou com uma leve alta de 0,76% a R$ 12,00. No entanto espera-se uma forte volatilidade dos preços no pregão da quinta-feira (12).


A Americanas já vinha apresentando uma trajetória acidentada nos pregões. Foi uma das primeiras empresas brasileiras a sofrer uma aquisição hostil de seu controle em bolsa, ainda no início da década de 1990.


Naquela ocasião, os então principais sócios do Banco Garantia, os bilionários Forbes Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles compraram o controle da centenária varejista. Nos anos que se seguiram, a Americanas foi um laboratório para o varejo brasileiro.


Em 2020, a companhia realizou uma profunda reestruturação societária. Unificou várias subsidiarias, como a empresa de comércio eletrônico B2W, em uma só empresa e melhorou a governança, elevando as ações para o Novo Mercado.


O anúncio do nome de Rial foi uma injeção de ânimo. O executivo tem muita experiência na melhoria de resultados. Antes de chegar ao comando do Santander, em 2015, o banco padecia para integrar as diversas operações que havia comprado ao longo de duas décadas de Brasil. Rial foi muito eficiente em unificar os negócios, aumentar a agilidade das decisões, por meio de investimentos maciços em tecnologia.


Seu anúncio para o comando da Americanas gerou expectativas de um desempenho parecido. O varejo e o sistema financeiro têm se aproximado nos últimos anos, graças à tecnologia, que permite vender produtos financeiros às enormes bases de clientes das redes varejistas.


A expectativa dos investidores era de um aumento da eficiência e da multiplicação das linhas de receita da Americanas, como programas de milhagem, concessão de crédito e distribuição de produtos e serviços financeiros. Agora, esses planos terão de ser adiados."


Fitch rebaixa rating da Americanas Para 'CC'


O time de research da XP divulgou que no dia 13 de janeiro, a agência de classificação de risco Fitch Ratings rebaixou a nota de crédito da Americanas S.A. para ‘CC’, de ‘BB’ na escala global e para ‘CC(bra)’ de ‘AA+(bra)’ na escala nacional. O rebaixamento se reflete nos ratings dos bonds e debêntures da companhia.

  Os principais pontos ressaltados pela Fitch para o rebaixamento foram: (i) Estrutura de capital insustentável, com a adição de R$ 20 bilhões em passivos; e (ii) Flexibilidade financeira limitada, devido à nova estrutura de capital e deterioração em sua credibilidade. 


Segundo a Fitch, a Americanas possivelmente entrará em um acordo de standstill com seus credores, dada a estrutura de capital insustentável e a deterioração reputacional da empresa.

 

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Conclusão


Ainda não está claro o tamanho do rombo e o verdadeiro impacto nos resultados e no balanço da empresa. Possivelmente o lucro dos últimos anos foi superestimado e o endividamento subestimado. Do ponto de vista financeiro, precisaremos aguardar o desenrolar dos fatos para entender a magnitude da inconsistência.


Já do ponto de vista de credibilidade nos dados financeiros, é difícil vislumbrar o cenário onde os danos reputacionais sejam reversíveis.


Avaliando a liquidez, a cia parece ter uma posição de caixa confortável no curto prazo.


Um ponto de atenção é que um dos principais pilares, senão o principal, das teses de investimento otimistas da empresa era justamente a chegada de Sergio Rial, logo sua saída da forma como foi é um banho de água fria.


Diante da recente reprecificação da empresa e da inevitável necessidade de recapitalização, um M&A ou um follow on podem acontecer em um horizonte curto.


***Atualização: 13/01/2023



Confira a íntegra da nota:


"Americanas declara dívidas de R$ 40 bi e vai pedir recuperação judicial

Por Lauro Jardim


Atualizado há 3 minutos


O Juiz da 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, Paulo Assed, acaba de conceder uma medida de tutela de urgência cautelar pedida pela Americanas. É uma decisão que suspende toda e qualquer possibilidade de um bloqueio, sequestro ou penhora de bens da empresa, assim como adia a obrigação da Americanas de pagar suas dívidas até que um provável pedido de recuperação judicial seja feito à Justiça.


Assed deu um prazo de 30 dias para que a Americanas peça, se avaliar que é o caso, recuperação judicial — obviamente, será este o caminho tomado pela varejista.


No pedido de tutela feito pela Americanas, a empresa afirma que a descoberta do rombo contábil de R$ 20 bilhões, anunciado anteontem num fato relevante, pode acarretar "no vencimento antecipado e imediato de dívidas em montante aproximado de R$ 40 bilhões." Como se chegou a esse montante?


"as inconsistências contábeis exigirão reajustes nos lançamentos da Companhia, o que poderá impactar nos resultados finais divulgados nos respectivos exercícios anteriores, com alteração do grau de endividamento da empresa".


Mais: afirma que o BTG, por exemplo, credor da Americanas, já "declarou o vencimento antecipado" de dívidas "em montante superior a R$ 1,2 bilhão".


O juiz, em sua decisão, escreve que é "justificável o deferimento da medida, com vistas a evitar o exaurimento de todos os ativos da companhia, por credores altamente qualificados, em detrimento dos demais credores, e, principalmente, da própria manutenção da atividade econômica".


Na mesma decisão, Assed nomeou como administradores judiciais o advogado Bruno Rezende e o Escritório de Advocacia Zveiter."

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Obrigado pela leitura.

Espero ter conseguido entregar o máximo de valor pelo mínimo de tempo.


Uma excelente semana e bons negócios.


Leonardo Strambi, CGA

Fundador e Assessor de Investimentos na Austria Capital


*Opiniões e análises pessoais, que não refletem necessariamente visões institucionais, nem se configuram como recomendação de investimento.


*A Austria Capital preza pela qualidade de informações e análises, ressaltando, no entanto que não faz qualquer tipo de recomendação de investimento neste portal. Qualquer decisão de investimento deve ser sempre realizada em conjunto com um profissional certificado de mercado, observando aspectos pessoais, situação patrimonial e perfil de risco.


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